quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Prever o futuro


Prever o futuro é sempre um grande risco. No passado, a maior parte das previsões saiu furada. Malthus, esse grande pessimista, nunca acertou nas contas, e a população não cresceu mais depressa que a capacidade de alimentação, e portanto as fomes negras que ele previa nunca aconteceram. O mesmo se passou com o Clube de Roma, uma entidade privada que nos finais dos anos 60 previu uma tremenda catástrofe ambiental para o mundo. O efeito de estufa, o aquecimento global, as chuvas ácidas, a calote polar a descongelar, tudo isso iria explodir nas décadas de 70 e 80 e o mundo, tal como o conhecíamos, iria acabar. Como se sabe, nada disso se verificou dessa forma drástica. Portanto, é sempre arriscado fazer previsões, e ninguém tem (e ainda bem que ninguém tem) uma bola de cristal para prever o futuro.

Contudo, há sinais que não convém ignorar ou substimar, e neste Verão de 2008, o mundo apresenta-nos uma extranha e cósmica conjugação de sinais preocupantes para o nosso futuro. As crises multiplicam-se, como cogumelos, como se costuma dizer. O sistema financeiro internacional foi profundamente abalado pela crise do subprime , e a capacidade de concessão de crédito da banca, em todo o mundo, está abalada e retraída para níveis muito curtos. O dinheiro desaparece todos os dias, com as desvalorizações profundas que têm acontecido nas bolsas do planeta. Empresas perdem valor todos os dias, e ninguém ganha com isso.

Ao mesmo tempo, o petróleo subiu para níveis altíssimos, e a tendência é de subida. Seja por causa da especulação, que é muita; seja por causa da procura, que aumenta sempre; ou seja porque a oferta já não é capaz de responder; o que é certo é que o preço vai subindo, e subindo, e subindo. Para ajudar à festa, Irão, Israel e EUA estão entretidos a ameaçarem-se mutuamente, provocando ainda mais instabilidade a uma região tremendamente desequilibrada. Calha alguém se enervar, e ainda teremos de aturar mais uma guerra regional, com bombas a serem lançadas de um lado para o outro e o estreito de Ormúz, por onde passa 40 por cento do abastecimento de petróleo mundial, a ser fechado à navegação.

Como se isto não fosse suficiente, há também um acentuada subida dos preços alimentares, que arrisca causar fome e distúrbios em várias regiões do planeta, e acirrar ainda mais a inflação mundial. O cenário é pois preocupante: crise financeira, crise petrolífera, crise alimentar. Será este o momento em que a nossa civilização se aproximou do abismo, ou será apenas a primeira Grande Crise da Globalização? Não sabemos ainda a resposta, mas todos temos a consciência que o mundo está perigoso e que estamos à beira de uma enorme transformação civilizacional. Como ela se vai dar, é algo que não sabemos bem, nem sabemos se será um choque abrutpto ou uma lenta transformação. O fim da civilização do petróleo está próximo, e agora é só uma questão de saber se conseguimos sobreviver a isso, e transformarmo-nos numa civilização diferente, ou se vamos sofrer um violento choque civilizacional, uma ruptura profunda. Matthew Simmons, o homem que previu a explosão no preço do petróleo e o seu fim próximo, já comprou uma quinta no Maine, pois está totalmente convencido que a cadeia alimentar mundial se vai quebrar por falta de petróleo, gerando convulsões enormes por todo o mundo. Ele acredita que vamos voltar ao tempo dos barcos à vela e que dentro de muito poucos anos vai haver fome, desespero e convulsões em todo o planeta. Os supermercados irão ficar sem nada nas prateleiras, os carros ficarão parados nas ruas, e sofreremos todos um perigoso retrocesso civilizacional.

É uma utopia negativa, mas talvez esteja mais próxima do que pensamos. A ideia de voltar às quintinhas, às hortas, e aos burros ou cavalos não é má de todo, mas o melhor mesmo é apostar nas energias alternativas, no sol, no vento e no mar e nos carros eléctricos. Assim, talvez evitemos a desgraça geral, e o regresso da pobreza e da fome.


Fernão Ferro

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