quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A arrogância dos ignorantes


Este país está minado de base por uma cambada de ignorantes com algum dinheiro, e que desta forma o conduzem. Os desígnios do nosso Portugal, na sua grande maioria, estão nas mãos de gente que não sabe como se faz e que, mais grave do que não saber, é não querer saber. Pensam que sabem, vão por intuição, põem-se a adivinhar e depois logo se vê. Este “depois-logo-se-vê”, expressão tão tipicamente ibérica, traz-nos muitos amargos de boca. Vejamos as seguintes situações:

Como sabem, toda a celeuma em torno da actividade pidesca anti-tabagista, surge maioritariamente porque a lei foi mal parida. É certo que não se pode fumar aqui e ali, porém, alguns locais poderão ser visitados por essa cambada de marginais que são os fumadores, se estes estiverem preparados com extractores eficazes de fumo. Erro! Os extractores de fumo não estão homologados pela legislação e o resultado é que os proprietários não vão arriscar a adquirir equipamentos que depois a pide/dgs do século XXI, mais conhecida por asae, poderá reprovar. Para além dos custos com o aparelhómetro, ainda teriam de pagar a multa. Notam aqui alguma incongruência, ou sou só eu?

Um amigo meu que é arquitecto está integrado numa equipa a concorrer para a concepção de um edifício público multi-usos. O briefing foi dado, o projecto começou a surgir, sem porém, terem todas as informações necessárias em termos de dimensões para cada área e exigências várias que a lei com certeza prevê. Digo eu que não se pode construir um consultório dentário sem uma sala de esterilização dos objectos. O clarão do óbvio é tão forte que chega a cegar. Ele, ao fazer tão descabidas perguntas, relativas às necessidades e exigências do espaço, é olhado de lado como se de um total absurdo se tratasse, querer saber como se fazem as coisas antes de as começarmos a fazer. O dono do atelier que tem a mania que sabe tudo, acha que a resposta está apenas na sensibilidade e bom-senso das pessoas e as leis que se lixem. Estão a ver o que vai acontecer a este concurso, ou sou só eu?

Quando trabalhava em Madrid, era responsável pelo marketing da empresa que em breve abriria portas em Portugal. A determinada altura tive de pedir ao departamento de design que concebesse um raio de uma caixa que pudesse conter um cd, bem como, um manual de instruções e mais umas coisitas. A caixa que seria produzida em cartão, com a imagem daquela linha de produtos, foi para trás 15 vezes! Ou porque não obedecia aos espaços necessários, ou porque não obedecia aos tamanhos de embalagem dos ctt, ou porque o cd não encaixava, ou porque sobrava espaço... enfim.... uma parafernália de elementos que os tais designers não quiseram respeitar por acharem que sabiam mais do que toda a gente. Ignoraram as directrizes e o resultado foi que ao fim de 15 tentativas depois, a caixa lá ficou pronta e a portuguesa (moi!) ficou com fama de megera exigente absurda, apenas porque essa era a forma de trabalhar deles. Fazer mais do mesmo e perder tempo sem fim numa coisa que se poderia produzir em três ou quatro dias. Esta é a maneira mais absurda de trabalhar, ou sou só eu que penso assim?

A maioria das mentalidades são terceiro mundistas. E os poucos que tentam fazer as coisas com bases estruturadas são muitas vezes dispensados das suas funções por não terem “espírito de equipa”! O “espírito de equipa” é encarado como o tão afamado tapa-buracos, e quem se recusa a começar projectos esburacados é excluído. Isto é completamente contraproducente ou são só manias minhas?

Felizmente ainda há algumas empresas com gente capaz a conduzir o barco, senão era o descalabro total de um país europeu do terceiro mundo.

“Ai Portugal, Portugal, o que é que tu estás à espera? Tens um pé numa galera, outro no fundo do mar...”*

TNT
Numa carreira a solo. Mais cáustica, mais intimista. Mais TNT...
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